A primeira vez que o nome de Merit apareceu foi no livro da historiadora, cientista e feminista Kate Campbell Hurd-Mead. No seu livro "Uma história das mulheres na medicina, desde os primeiros tempos até o início do século XIX", ela relata:
"A tumba de Ptah, o deus médico, em
Sakkara, perto de Memphis, é uma das mais elaboradas e belas do Egito, mas é especialmente interessante para os médicos, pois mostra a vida de um médico há cinco mil anos. Em uma tumba no Vale dos Reis está a imagem de uma médica chamada Merit Ptah, a mãe de um sumo sacerdote, que a está chamando de "a médica-chefe", embora nem seu traje nem sua postura indiquem sua profissão médica ou importância."
Acreditava-se que a inscrição deixada na tumba Saqqara, nomeando Merit Ptah como "Médica Chefe", havia sido deixada pelo seu filho, e que ela teria atendido o rei. Porém, com novas descobertas e estudos mais profundos, historiadores investigaram se Merit Ptah realmente foi uma médica, e chegaram na conclusão de que suas vestimentas e posturas não representam os médicos da época, e sua suposta tumba seria localizada em um lugar que só existiu em 1540 a.C, ou seja, quase mil anos depois da sua morte, além do fato de o nome Merit Ptah não ser registrado nos livros como uma curadora (GOMES, 2020).
Alguns historiadores acreditam que Peseshet seja, na verdade, a primeira médica a ser registrada, mas há poucas evidências.
Mesmo sua vida sendo um mito, e não tendo comprovações de que Merit Ptah tenha realmente existido, a sua importância não deixa de ser imensa. Kate Campbell publicou seu livro em meados de 1938, na Segunda Guerra Mundial, abrindo os olhos de muitas pessoas e mudando o papel das mulheres na sociedade, fazendo com que inúmeras mulheres começassem a lutar contra a discriminação das universidades médicas que não deixavam-nas ingressarem.
Além disso, mesmo ganhando popularidade inicialmente na Europa, Merit Ptah se tornou um símbolo da história das mulheres negras, se tornando um exemplo de cientista gênia, negra e africana (FREUND, 2020).
Merit Ptah continua sendo até hoje um símbolo feminista de resiliência, luta, empoderamento feminino e inspiração na área medicinal e científica feminina. Kate Campbell pode ter criado sua história baseada em fatos errados, mas o que Merit Ptah representa, abriu inúmeros caminhos e mudou a vida de muitas mulheres cientistas.
Fontes:
Hurd-Mead, Kate Campbell. A history of women in medicine, from the earliest times to the beginning of the nineteenth century. Haddam: The Haddam Press; 1938.
FREUND, C. Meet Merit-Ptah, the ancient Egyptian doctor who didn’t exist. Disponível em: <https://massivesci.com/>.
STARR, M. That Famous Story of The Female Physician From Ancient Egypt Has Turned Out to Be Super Wrong. Disponível em: <https://www.sciencealert.com/>.
Women in Science | History, Achievements, & Facts | Britannica. , 2021. (Nota técnica).
Celebrando 5000 anos de história da Mulher na Ciência - Ciência pelos olhos delas. Disponível em: <https://www.blogs.unicamp.br/>.
GOMES, G. Os enigmas de Merit Ptah, considerada primeira médica da História. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/>.
MARK, J. J. Female Physicians in Ancient Egypt. Disponível em: <https://www.worldhistory.org/>.
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